terça-feira, 26 de julho de 2011

Espontâneo

Nesta composição singela
Numa terça-feira pela manhã
Aos 208 dias do ano
Me atrevo a escrever versos
Sem me importar com a métrica
Tampouco com a estética
Quiçá com o conteúdo

Penso no dia de ontem
E penso nos dias que seguem
Vejo feiras
Trabalho
Finais de semana
Descanso

A vida dividida em segundos
Horas e dias
Semanas e Meses
Anos
Décadas
Séculos e Milênios
Gregório que o diga

E quando adentramos no acervo da memória
Buscamos muitas vezes datas e números
Mas o que vale mesmo são os momentos
A eternidade de um instante
Não se mede num calendário

De um susto
A um beijo
De uma grande vitória
Até a mais desastrosa derrota

E  nós dividimos o tempo
Para nos organizarmos
E para que possamos lembrar
Daquilo que não se pode esquecer
Dia das mães
Dia dos pais
Dia dos avós
Dia do que ainda virá

Motivos sinceros
E comerciais se entrelaçam
Numa teia maquineísta
E corporativista
E nós quase sempre entramos no jogo

Escuto ao som de um fonógrafo Don Giovanni de Amadeus
Me acalmo
Vejo o filme do milégimo gol de Arantes
Vibro
Lembro-me do dedo
Cortado ontem de uma forma
Tão inexplicável


Dos fatos e holocaustos
Das guerras e das singelezas
De um dia qualquer
Esquecemos
Do muito que deveria ser lembrado
E nos lembramos
Muitas vezes do que jamais deveria ter acontecido

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"Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar."

Clarice Lispector