terça-feira, 19 de abril de 2016

A história do papel higiênico...

Você já se preocupou ou reparou na posição que é colocado o papel higiênico? Calma, vou explicar. O papel deve sair por cima ou por baixo? Parece um tema trivial, mas já deu até em divórcio. Por isso convido vocês a leitura da divertida crônica de Mário Prata:

O rolo do casamento


– Você coloca o papel higiênico – no rolo – com o papel saindo por cima ou por baixo?


O Kadu e a Bel se separaram. Pergunta você, que não sabe quem são os dois, e eu com isso?
O casal era o último da minha geração a manter os sagrados laços do matrimônio, a insistir na célula mater da sociedade. Mais de 20 anos, quase avós. Não acreditava quando me encontrei com o Kadu nos 40 anos da Élia, sábado passado.


– Mas o que houve, cara?
– Você não vai acreditar. A gente se separou por causa do rolo de papel higiênico... Pode?
– Como é que é? Bebeu?
– Sério. Foi quase litigioso.
– Calma, calma. Vamos por partes. Você e a Bel se separaram por causa de um rolo de papel higiênico?
– Um, não! Vários! Vinte anos de papel higiênico. Faça a conta.


Pirou, pensei. Ou está gozando com a minha cara.


– Você, por exemplo, quando coloca o papel higiênico no rolo, deixa o papel saindo por cima do rolo ou por baixo? Hein? Por cima ou por baixo?


Eu juro que nunca havia pensado nisso. Tentei lembrar do meu banheiro, da última vez que usei o rolo, nada. Por cima ou por baixo? Mal sabia, naquele momento, que o problema iria me acompanhar por toda a noite e, até hoje, não penso noutra coisa. Já ando fazendo pesquisas com amigos e amigas. Foi minha vez de perguntar:


– Você, por exemplo, põe por baixo ou por cima?
– Por baixo, é claro! Tem uma pesquisa nos Estados Unidos que constatou que a maioria do homens (71%) põe por baixo. E a maioria das mulheres põe por cima. Parece mentira, mas a pesquisa existe. Entrou no processo de divórcio. Já a USP nunca se manifestou.
– Mas vocês passaram a vida toda brigando por causa disso?
– Claro que não. Só os últimos cinco anos. Era um horror. Quando eu trocava o rolo, colocava por baixo. Quando voltava lá, estava por cima. Ela ia lá, de noite, e mudava. Bastava ela sair de casa que eu mudava de novo. A gente chegou num ponto em que estava quase partindo pra porrada! O casamento virou uma merda.
– Eu acho que eu ponho por baixo...
– O quê?
– Nada, nada. Mas o que ela alegava para colocar por cima?
– Uma tese frágil, foi o que o meu advogado defendeu. Ela dizia que, colocando por cima, quando você girava ele com força, a ponta sempre ficaria à disposição. E quando estava por baixo e você fazia o mesmo movimento a ponta sumia.
– Não deixa de ter a sua lógica a posição da Bel.
– Pô, cara, até você está contra mim? Tenho certeza que você coloca por baixo. Homem que é homem põe por baixo. O Junior, por exemplo, põe por baixo. Desde pequenininho. Faz parte da personalidade do homem. Vai por mim.
– Tudo bem, tudo bem. Mas se separar, depois de tantos anos, por isso? Por um rolo de papel higiênico?
– A gente tentou de tudo. Fomos fazer terapia de casal. A Madalena, que era a psicóloga, até sugeriu que a gente usasse folha dupla e soltasse uma por cima e uma por baixo. Mas embaralhava tudo. Ficava a maior confusão. A gente tentou de tudo. Mas, a cada dia, o problema aumentava. Começamos a discutir com os casais amigos, com vizinhos. Achavam que a gente estava louco. Cada vez era pior o problema. Eu voltava para casa pensando: aquela vaca virou o papel higiênico de novo! Sonhava com rolos e mais rolos de papel higiênico! Verdadeiros pesadelos. Antes que eu desse um tiro nela, ou ela em mim, veio a separação. Pensamos nas crianças, é claro. Cada um na sua casa, cada um com a ponta saindo como gosta. Ficamos até bons amigos. Fazemos o possível para não brigar mais. Mas eu não vou ao banheiro na casa dela – nem morto! – e ela não vai na minha. Na minha privada sento e mando eu! É o mínimo que um sujeito com a minha idade precisa para viver sozinho, feliz e sem problemas. Certo?


Fui para casa com o rolo na cabeça. Entro no banheiro, olho. Está saindo por cima, o danado! Coisa de mulher, me garantiu o Kadu. Pesquisa americana! Mudo, coloco por baixo. Vou dormir. Não consigo. Volto, coloco por cima. Fico olhando. Dou uma girada nele. Volto para o quarto. Pensando nele. Não consigo dormir. Volto ao banheiro. Olhando para ele. Tiro do lugar. Coloco em pé em cima do bidê e vou dormir em paz. Amanhã eu resolvo este problema. Afinal, ainda falta uma semana pra Renata voltar de férias.


Mário Prata



Que seja infinito o que nos faz bem...


quinta-feira, 14 de abril de 2016

"Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar."

Clarice Lispector