Não me entenda mal, mas precisamos aprender a dizer "não". É uma questão de saúde mental, de qualidade de vida. É claro que devemos estar abertos a oportunidades. Mas precisamos dizer "sim" somente quando realmente quisermos dizê-lo. É preciso existir o real desejo do assentimento ou quando ele não existir, a situação ser imperiosa a ponto de que o "sim" seja necessário, por questões que superam o seu estado físico ou psicológico daquele momento. Vivemos na era do automatizado e muitas vezes dizemos "sim" sem muita reflexão, somente para nos poupar de situações futuras, evitar desavenças ou incômodos naquele momento ou em seguida.
Mas a vida é feito da coleção de pequenos momentos e a cada "sim" que deveria ser dito "não", nossa vida vai se esvaindo, quando deveria estar fluindo.
Num mundo sombrio de egos inflados; dizer "não" para um convite, proposta ou solicitação pode soar como um desprestígio ou falta de empatia ou amizade. Mas não podemos esquecer jamais que nosso tempo é nosso maior ativo, devemos aprender a valorizar ele, pois o tempo não volta e não pode ser comprado. Podemos pensar: "não 'tô afim de fazer isso, mas se eu disser "não", ele(a) vai ficar magoado comigo". É um pensamento lógico, mas é preciso ser sopesado.
E, sinceramente, é normal que um amigo fique magoado e está tudo bem. Outro dia, pode ser ele a dizer não para você (tomará que não como forma de vingança). Veja, a vida é um misto de alegrias e dissabores, aprender a valorizar o seu tempo e a sua energia é uma questão literalmente de vida, de felicidade.
Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente. (Érico Veríssimo , Olhai os Lírios do Campo. Editora Globo, 1974)
Mas Roldan, tem gente que você oferece mão, ela pede o braço. Cuidado, não estou me referindo a pessoas folgadas. Essas, quando detectadas, devem ser excluídas do "sim", caso contrário, elas irão aproveitar mesmo, sugando a energia vital de quem os ajuda.
Voltando ao assunto, talvez um cuidado a se tomar com seu amigo ou colega, seria dizer o "não" de uma forma educada: "Muito obrigado pelo convite, mas não posso ir" ou "Agradeço o convite, mas hoje não estou disposto". Não precisa mentir ou inventar uma história mirabolante. A verdade pode doer, mas liberta. Se a pessoa que recebeu o "não" te respeita e te valoriza, ela certamente irá entender, mesmo que fique chateado no momento.
Outra hipótese é delimitar o "sim" ou oferecer outra ajuda alternativa, caso você possa ou queira atender parcialmente o pedido, é claro. Exemplo: "Vamos na casa de fulano? Vamos sim, mas só posso ficar até as 22h, acordo cedo amanhã (se você sabe que seus amigos ficarão magoados se você sair mais cedo ou fizerem pressão psicológica para você ficar até tarde, então diga logo "não") ou o a seguinte situação: "Fulano, você pode me ajudar a fazer esse relatório aqui do meu trabalho? - Poxa, queria muito, mas estou sem tempo. Vou te encaminhar um ótimo modelo de referência, qualquer dúvida pode me perguntar".
São exemplos genéricos e hipotéticos, a questão é demonstrar o seu respeito, carinho ou empatia pelo próximo. Você está dizendo "não" de uma forma polida e educada, e pode, quando possível sugerir outra forma de ajuda. Lembre-se: amanhã pode ser você a ter uma solicitação negada ou parcialmente atendida, então devemos procurar sempre ser solícitos, educados e gentis.
Eu não sei qual é o segredo do sucesso, mas o segredo do fracasso é tentar agradar todo mundo" (Bill Cosby)
Veja, o autor da frase usa o verbo "tentar", obviamente é impossível agradar a todos ou agradar a mesma pessoa o tempo todo; e está tudo bem. Eu, por muito tempo, dificilmente dizia "não" e grande parte das vezes me coloca em situações e/ou lugares onde eu não queria estar ou lugares que me faziam mal.
Que possamos dizer "sim" para vida e principalmente para as coisas boas dela, pois às vezes, será necessário dizer "sim" para coisas não tão boas assim, mas que são necessárias ou urgentes. Isso é fato. Que o nosso "sim" seja sempre que possível um genuíno ato de vontade. Como diria Vinicius de Moraes: "a hora do sim é o descuido do não", será?
Roldan Alencar