quinta-feira, 16 de junho de 2011

O tempo

           O tempo, de sorte diferente de tudo o que é material, é intocável e inaderente. O vaivém não se deixa pegar, não se junta; fermento algum o faz crescer, peso ou freio qualquer o para. Veste-se de trajes inacusáveis, tecidos angelicais irrepreensíveis, pois nada nos prometeu. Feito bonde errante, nos conduz a seu bel-prazer. Quanto ao destino, só podemos palpitar e apostar as fichas do trabalho. Canoa desgovernada que é, só nos permiti umas braçadas. Seu leme faz diáspora da programação. Todos os que nele entram devem guardar as palavras. Da boca sair ‘vou’ e ‘quero’: pernície! ‘Espero’ e ‘aguardo’: comprimidos de saúde. Feito os impostos, o tempo nos açoita, ai dos devedores! À semelhança de dinheiro inacumulável, o tempo só permite ser gasto. O comércio fervilha e é, por demais, diversificado, há de se saber onde abrir as mãos. Indo contra as acepções, ele a todos remunera.  Quantos não foram os que pensaram encher os bolsos dessa grana, mas a inflação é tamanha que a cédula nada mais vale quando dobrada. Ele não tem dono, passa na fresta, no vão e resvala, ninguém, ninguém o contém. Duma coisa estou certo: ele tem algo de canhoto, pois não age direito. Podia eu ter gasto melhor aquelas moedas temporais? De modo algum!  Criança num parquinho... nossa alegria se esbaldou... não havia lembrança nossa, menos ainda projeção. Não tentamos desenhar o destino, só deixamos no chão, os rabiscos do presente...




Roldan Alencar
Reminiscências alegres e vindouras de outro tempo e ei de vivê-las ainda...

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Depende de quando e como você me vê passar."

Clarice Lispector