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quarta-feira, 4 de abril de 2018

Somos Especiais

Somos únicos
Exclusivos
Sem igual
Fomos os escolhidos
Entre as infinitas galáxias
Estrelas e planetas

Podemos fazer o que quisermos
Principalmente destruir
Destruir os animais, a natureza, os sonhos
E as certezas
Que a cada dia renascem da nossa soberba e criatividade
Tudo isso é possível
Porque somos especiais

"Peça com vontade e o mundo te entregará"
Quem tem fé sempre alcança
Afinal os fins justificam os meios
Estar vivo é um fator biológico
E a vida um fenômeno a ser estudo
Pelas ciências

Somos vaidosos
E orgulhosos
Somos a raça superior
Homo Sapiens Sapiens

Somos um meio a bilhões
Mas sempre esperamos um tratamento diferenciado
Seja do mundo, seja de cada pessoa
Não aceitamos o não
Não aceitamos a rejeição
Isso porque todos devem respeito, gratidão e satisfação
Aos nossos desejos e caprichos

Somos
Tecnológicos
Modernos
Espertos
Imediatistas
Consumistas
Gananciosos

Somos belos
Fugazes
Indecentes
Crentes
Triviais
Somos sensacionais
Somos paradoxais
Somos céticos, éticos e ecológicos

Entregaremos aos rebentos
A mais pura e avançada tecnologia
A cura do câncer e da AIDS
Tours espaciais

Teremos corpos belos e perfeitos
Num mundo sujo e acabado
Teremos muito dinheiro
Dormiremos em camas de ouro
Enquanto a alma refém
Dormirá em calabouços
Frios e escuros

O mundo nos serve
O futuro será maravilhoso
Afinal somos especiais
Um em meio a bilhões


Roldan Alencar

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Florbela Espanca

Vaidade

Florbela Espanca

Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho...

                                E não sou nada!...



Aos olhos dele



Não acredito em nada. As minhas crenças
Voaram como voa a pomba mansa;
Pelo azul do ar. E assim fugiram
As minhas doces crenças de criança.

Fiquei então sem fé; e a toda a gente
Eu digo sempre, embora magoada:
Não acredito em Deus e a Virgem Santa
É uma ilusão apenas e mais nada!

Mas avisto os teus olhos, meu amor,
Duma luz suavíssima de dor...
E grito então ao ver esses dois céus:

Eu creio, sim, eu creio na Virgem Santa
Que criou esse brilho que m'encanta!
Eu creio, sim, creio, eu creio em Deus!


Florbela d'Alma da Conceição Espanca tem hoje seus versos admirados em todos os cantos do mundo, diferentemente do que aconteceu quando ainda viva, época em que foi praticamente ignorada pelos apreciadores da poesia e pelos críticos de então. Os dois livros que publicou, por sua conta, em vida, foram "O Livro das Mágoas" (1919) e "Livro de "Sóror Saudade" (1923). Às vésperas da publicação de seu livro "Charneca em Flor", em dezembro de 1930, Florbela pôs fim à sua vida. Tal ato de desespero fez com que o público se interessasse pelo livro e passasse a conhecer melhor a sua obra. Dizem os críticos que a polêmica e o encantamento de seus versos é devida à carga romântica e juvenil de seus poemas, que têm como interlocutor principal o universo masculino.


Textos extraídos do livro "Poemas", Martins Fontes Editora - São Paulo, págs.06 e 22.

Florbela Espanca (Vila Viçosa , 8 de dezembro de 1894 — Matosinhos, 8 de dezembro de 1930), batizada como Flor Bela Lobo, e que opta por se autonomear Florbela d'Alma da Conceição Espanca, foi uma poetisa portuguesa. A sua vida, de apenas trinta e seis anos, foi plena, embora tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização, feminilidade e panteísmo.  (wikipedia)
"Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar."

Clarice Lispector