sábado, 18 de março de 2017

Quero me curar de mim

Sou a maldade em crise
Tendo que reconhecer
As fraquezas de um lado
Que nem todo mundo vê

Fiz em mim uma faxina
E encontrei no meu umbigo
Meu próprio inimigo
Que adoce na rotina

Eu quero me curar
De mim
Quero me curar de mim

O ser humano é esquisito
Armadilha de si mesmo
Fala de amor bonito
E aponta
O erro ali

Vim ao mundo em um só corpo
Esse de um metro e sessenta
Devo a ele estar atenta
Não posso mudar em outro

Eu quero me curar de mim
Quero me curar de mim 
Quero me curar de mim

Vou pequena e pianinho
Fazer minhas orações
Eu me rendo da vaidade
Que destrói as relações

Pra me encher do que importa
Preciso me esvaziar
Minhas feras encarar
Me reconhecer hipócrita

Sou má
Sou mentirosa
Vaidosa e invejosa
Sou mesquinha
Grão de areia

Boba e preconceituosa
Sou carente
Amostrada
Dou sorrisos
Sou corrupta
Malandra
Sou fofoqueira
Moralista
Interesseira

E dói, dói, dói
Me expor assim
Dói, dói, dói
Despir-se assim

Mas se eu não tiver coragem
P'ra enfrentar os meus defeitos
De que forma
De que jeito eu vou me curar de mim
Se é que essa cura há de existir
Não sei
Só sei que a busco em mim
Só sei que a busco
Me curar de mim

 Flaira Ferro




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"Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar."

Clarice Lispector