Mas pera aí Roldan! Que preço? Do que se trata? Depende.
Bom, verdade, tenho que concordar com você. Hoje vivemos na era do "depende". Então vou contextualizar.
Em tempos líquidos (Bauman - Modernidade Líquida), onde tudo parece rápido, raso e superficial o valor das relações interpessoais e o valor das relações com os objetos está mudando. Queremos experimentar tudo e a todos. Queremos o novo o tempo todo. Isso é perigoso, mas irreversível. Quanto mais acessível algo está, mais ele perde o seu valor. É a famosa lei da oferta e da procura.
“Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar.”
Zygmunt Bauman
A relação do ser humano com o tempo está mudando. O tempo dura menos. A cada dia temos mais compromissos, são mais carros circulando nas ruas, mais pacotes para abrir, mais filmes, mais cursos, mais aplicativos, mais pratos, como posso experimentar tudo se meu tempo é limitado? Vou experimentar o máximo de coisas da forma mais superficial possível. BINGO! Essa é a solução mágica encontrada pela sociedade moderna.
Por que ter um super amigo e dedicar um tempo de qualidade para ele, se posso ter dez amigos e dar 1/10 do tempo para cada um deles ? Por que ficar 10 dias na Itália, se no mesmo período posso conhecer mais de 5 países? Por que me casar se posso a cada semana conhecer uma pessoa diferente? Para que comprar um casa, se posso morar em tantos lugares diferentes?
Agora minha pergunta está começando a fazer sentido. O quanto estamos dispostos a pagar por algo? O quanto estamos dispostos a investir tempo em algo? O tempo é escasso; se dedicar a algo implica automaticamente na perda de várias outras oportunidades. Então temos uma conflito:
Superficialidade x ProfundidadeVariedade x Qualidade
Em tempos de Tinder, Ifood, Instagram, Facebook e outros apps, tudo parece mais volátil e superficial. Não à toa que muitos trocam de celulares e carros todo ano. Aqueles que não trocam, muitas vezes, não o fazem somente por questões financeiras. Os relacionamentos também são muitos, ao primeiro desgaste da relação, muitos casais já se separam, afinal não há tempo a perder.
Corrida contra o relógio
Silicone contra a gravidade
Dedo no gatilho, velocidade
Quem mente antes diz a verdade
Satisfação garantida
Obsolescência programada
Eles ganham a corrida
Antes mesmo da largada
(3ª do Plural - Engenheiros do Hawaii)
A questão é, estamos vivendo numa era onde queremos trocar de parceiros, amigos e coisas o tempo todo. O valor inerente de cada coisa está se perdendo.
Pensamos: bom, se ele não quer ser mais meu amigo, tudo bem, posso encontrar outro. Talvez outro até mais interessante. Se ele/ela não quer ficar mais comigo, sem problemas, procuro quem queira...Perdemos o interesse rápido. O mundo moderno e globalizado nos dá a ilusão que tudo é possível. Tudo é acessível. Tudo é instantâneo. Tanto é verdade, que quando mandamos uma mensagem no WhatsApp para algum amigo que está online e ele não responde no mesmo instante, o que pensamos: "Caramba, ele 'tá online e não responde". (Que abuso, que desfeita). Ou seja, pelo fato da pessoa estar online pensamos que ela está acessível e se ela não responde achamos aquilo uma afronta e já criamos um bloqueio, e muitas vezes até perdemos o interesse na pessoa (mesmo que seja momentâneo), porque achamos que ela não teve interesse em responder.
Alguns chamam essa transitoriedade em relação as pessoas e as coisas de "Síndrome de Don Juan", ou seja, a falta generalizada de interesse das pessoas umas nas outras e/ou a falta de interesse nas coisas.
Será que estamos vivenciando a era dos prazeres dionísicos? A verdade é que a variedade é indiretamente proporcional a intensidade do prazer.
Então fica a pergunta: o que temos feito de sólido? Em relação a nossos relacionamentos (sejam eles de amizade, amorosos, familiares) e também com os objetos que temos ou desejamos (roupas, gadgets, acessórios...).
Todo esse panorama descrito não significa necessariamente que o passado seja melhor que o presente, ele é apenas diferente. Estamos em transição. Mas é preciso ter cuidado. A velocidade do mundo só tende a aumentar. Então o que fazer? É preciso alinhar o uso do tempo com nossos propósitos mais íntimos. Sopesar se é melhor ter poucos e bons amigos do que ter muitos e superficiais. Se é melhor conhecer bem um único lugar ou conhecer dezenas de forma superficial. Se é melhor dedicar um tempo de qualidade num relacionamento amoroso e criar laços ou sair com diversas pessoas e nunca criar laços profundos.
Todo esse panorama descrito não significa necessariamente que o passado seja melhor que o presente, ele é apenas diferente. Estamos em transição. Mas é preciso ter cuidado. A velocidade do mundo só tende a aumentar. Então o que fazer? É preciso alinhar o uso do tempo com nossos propósitos mais íntimos. Sopesar se é melhor ter poucos e bons amigos do que ter muitos e superficiais. Se é melhor conhecer bem um único lugar ou conhecer dezenas de forma superficial. Se é melhor dedicar um tempo de qualidade num relacionamento amoroso e criar laços ou sair com diversas pessoas e nunca criar laços profundos.
Que possamos balancear e equalizar o investimento do nosso bem mais precioso: o tempo. Que possamos pagar o preço necessário. E que a nossa energia vital seja dedicada aquilo que nos faz bem e aqueles que amamos.
Roldan Alencar
Roldan Alencar
Sobre a liquidez dos "relacionamentos amorosos", recomendo a música "Fuzuê" do Tiago Iorc, basta acessar nesse link: Fuzuê | Tiago Iorc - Clipe Oficial
E também fiz um texto que trabalha a mesma ideia Olhares Atentos
E também fiz um texto que trabalha a mesma ideia Olhares Atentos
Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.
Dalai Lama
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