"A saudade é o bolso onde a alma guarda aquilo que perdeu"
Rubem Alves
quinta-feira, 30 de janeiro de 2020
terça-feira, 21 de janeiro de 2020
#reflexão
"Desconfie do destino e acredite em você.
Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu"
Sarah Westphal
O melhor 'café' matinal é quando ele rima com aquela atitude de espírito: 'cá fé'... engajados chamamos a nós a esperança no porvir, confiança no ouvir o coração e temperança no devir°, que é o vir ininterrupto abrupto ponteiro, píer° compulsório sanatório da incertezas para atracar de surpresas e feliz avir° que condiz com o diz-que° "pode melhorar".
Daniel Alencar
Glossário:
° Devir: Vir a ser; tornar-se, transformar-se, devenir;
° Píer: Construção que avança para o mar, perpendicular ou obliquamente ao cais, para atracação de embarcações por um ou ambos os lados;
° Avir: Entrar em entendimento, conciliar (-se)
° Diz-que: Disse me disse.
Que você faça, com intimidade, conexão com seu ‘dia’. Que hoje você aprenda, em boa medida, com aquilo que ‘doía’. Por mais que se rememore aquele inútil: ‘‘será que eu ia’’, é preciso lembrar que água passada não nos banha e nem ‘sacia’. O passado por vezes tarda em ser passado, é porque estar no hoje é o que ele ‘queria’. O futuro, por sua vez, quer se antecipar, quer mandar como mãe, mas é ‘tia’. O que vale mesmo é o presente, com mau humor ou ‘simpatia’, temos que fazer sala para ele, garantir que se sinta acolhido, a la vontê, para que possamos nos desprender do que foi e será, pois esta ‘mania’ de ‘idiotia’...muitas vezes nos faz só comer uma só ‘fatia’ do bolo inteiro do ‘dia’.
Daniel Alencar
DOS MILAGRES
O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloquência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditarem nisso tudo!
Mario Quintana
sexta-feira, 10 de janeiro de 2020
O Menino Que Carregava Água Na Peneira
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores
e até infinitos.
Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria
o mesmo que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo
ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro
botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os
vazios com as suas
peraltagens
e algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos.
Manoel de Barros BARROS, M. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011.
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores
e até infinitos.
Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria
o mesmo que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo
ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro
botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os
vazios com as suas
peraltagens
e algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos.
Manoel de Barros BARROS, M. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011.
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"Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar."
Clarice Lispector
Depende de quando e como você me vê passar."
Clarice Lispector