"A saudade é o bolso onde a alma guarda aquilo que perdeu"
Rubem Alves
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quinta-feira, 30 de janeiro de 2020
segunda-feira, 11 de novembro de 2019
A beleza da incerteza e os desafios da vida
Paradoxalmente a beleza da vida está na dúvida. Que graça teria a vida se cada acontecimento fosse um passo previamente conhecido - não teria a menor emoção. Tenho a impressão que nossa sociedade moderna quer acabar com isso. É como se fôssemos marionetes. Quando nascemos temos um manual pré-fabricado de como tudo deve ser. E parece que nos é permitido apenas mudar algumas pequenas cláusulas de manual.
E isso é algo importante a se pensar. Mesmo que não entremos em discussões religiosas, gostaria de perguntar por que vivemos? Qual o nosso propósito de vida? Qual a nossa margem de escolha no mundo que vivemos. Isso é muito sério. Para começar não escolhemos a época em que nascemos, nem nosso gênero, nome, nacionalidade, etnia, família ou classe econômica.
Quais são nossas escolhas, senão aquelas oriundas da realidade pronta que recebemos ao nascer?
Em um lacônico resumo, ouso esboçar um possível modelo de vida nos seguintes termos: (excetuando o nascimento, os demais não seguem uma ordem cronológica exata): - Nascemos. Aprendemos a andra e falar. Entramos no colégio. Nos graduamos. Estudamos incessantemente por anos para conseguir um bom emprego (afinal precisamos fazer nossa vida. Pagar contas: água, energia, telefonem internet, carros, roupas, viagens, celulares e acessórios). Precisamos nos relacionar, namorar, casar. Precisamos de casa e precisamos gerar filhos, netos...plantamos uma árvore, escrevemos um livro...Um ajuste ali, aqui ou acolá, pronto cumprimos o manual mencionado lá no começo. Podemos esperar a morte em paz.
Tanto é verdade o que estou dizendo que quando alguém chega na casa dos 30 anos ou até antes se sente na obrigação de ter conquistado a almejada estabilidade financeira e vários pontos do "suposto manual" da vida, como se casar, por exemplo. A mulher se sente pressionada a ter filhos. E lá no íntimo, mesmo que digamos que não ligamos para toda essa expectativa social, sempre existe alguma frustração de algo não realizado segundo os padrões da sociedade. Um auto-senso de falha. Isso é normal.
Faz sentido? Você vive assim? Eu vivo e neste exato momento estou pensando no que posso fazer para processar toda essa informação e ressignificar tudo isso.
A questão não é ter um filho, é criá-lo da melhor forma possível. Não é sobre plantar uma árvore, mas sim regá-la todos os dias. Não é sobre escrever um livro, mas sim acreditar e praticar aquilo que foi escrito.
Nos sentimos pressionados a tomar determinado rumo, muitas vezes porque é o que a maioria faz. Seria o famoso efeito manada? Somos orientados a fazer o curso X ou Y, porque o curso Z não dá dinheiro (não importa se você gosta ou não). Somos conduzidos a sermos bem sucedidos e talvez teremos como brinde a tão sonhada felicidade. Afinal, é muito mais fácil sorrir quando se mora numa casa confortável, dirige um carrão e não possui dívidas, certo? Mas será tão simples assim?
E nessa toada, algo que me intriga ocorre quando acesso a internet e vejo milhares de coaches e pseudo terapeutas dizendo: você pode ser o que quiser. Desde de um milionário a uma celebridade da TV. Tudo é questão de meritocracia. Bem, eu realmente acredito no poder do trabalho e no poder da transformação. Mas como falar em meritocracia para pessoas desiguais. Qual a probabilidade de um filho de juiz ser médico em comparação a um filho de uma mãe solteira com mais 5 irmãos residentes em uma favela do Brasil?
Ambos terão que estudar e se dedicar caso queiram se tornar médicos, é claro. Mas qual terá as melhores condições de lograr êxito? Quem teve acesso aos melhores colégios, médicos, alimentação, moradia. E nesse raciocínio eu indago: - Seria o mundo justo? Seria a vida traiçoeira? Qual seria a culpa de Deus em tudo isso? A vitória ou derrota depende somente de nós mesmos? Isso me faz lembrar de uma reflexão de Mário Sérgio Cortella:
"Faça o teu melhor, na condição que você tem, enquanto você não tem condições melhores, para fazer melhor ainda!"
Não estou defendendo o vitimismo. Estou apenas indicando as incongruências do discurso do "posso tudo desde que eu pague o preço". Esse discurso é parcialmente verdadeiro. Com certeza temos que lutar pelo que queremos e fazer nosso melhor, entretanto, é preciso antes enxergar a realidade, pare depois transformá-la. Veja, não estou dizendo que é errado seguir passos ou planejar a vida. Isso é bom. O errado é a "opressão". É o fazer por fazer. Sem vontade. Sem reflexão. Sem tesão. Geralmente fazemos nossos planos de vida baseados em ilusões ou nos passos que nossos pais seguiram ou planejaram para nós. E falando neles, é claro que eles sempre desejam o melhor é claro. Querem que tenhamos uma vida bem-sucedida. Mas o que seria uma vida "bem-sucedida" em termos da sociedade atual? Seriam nossos desejos uma construção do ego, algo feito para manter nossas aparências? Ou seriam sonhos do nosso íntimo? Coisas que realmente nos deixam realizados.
Atenção! Não quero incentivar à vida dos prazeres (hedonismo) aquela em que a vida perfeita está atrelada a fazermos somente aquilo que nos dá prazer, tampouco o niilismo (pessimismo sobre a vida). De forma alguma. A vida boa para mim é a vida com significado. Que tenha um propósito, seja ele cuidar de crianças carentes, salvar as baleias, o meio-ambiente, propalar a arte (música, pintura, literatura), esportes, criar seus filhos ou escrever um livro.
Gostaria de deixar claro que faço muitas perguntas e não pretendo responder todas (talvez eu não responda nenhuma). Meu objetivo aqui é a reflexão. Na filosofia as perguntas são mais importantes que as respostas, pois a solução de um problema nasce primeiro com as ideias.
Ok, Roldan! Estou refletindo, mas você não teria alguma ideia? Sim, como eu mencionei lá em cima, é preciso acreditar e praticar o que se escreve. Eu escrevo para refletir e reflito enquanto escrevo, num processo de retroalimentação. Comecei a escrever justamente para extravasar todo sentimento não compreendido. Confesso que o processo de significação da vida é infinito, pois ele vai se transformando. Afinal, aprendemos e ensinamos todos os dias. Aquele que deixou de aprender ou ensinar, assinou sua sentença de morte. E quando digo "aprender e ensinar", não me refiro somente ao ensino formal propriamente dito, podemos aprender e ensinar de infinitas maneiras. Mas é preciso estabelecer as bases do que será nossa "vida com propósito", ou como diria Clóvis de Barros Filho: uma vida que vale a pena ser vivida.
Precisamos delimitar o ponto de partida. No meu caso, tento apreciar todos os processos em que estou inserido. Amo aprender e ensinar. Amo a arte e suas vertentes. Amo a beleza da vida e seus detalhes. Amo me conectar com as pessoas. Estou aprendendo a ajudar o próximo de uma forma mais direta. E tento a cada dia apreciar o presente, o agora. Maximizar cada momento. Pode ser um bom filme, uma conversa, uma taça de vinho ou um apetitoso prato de comida. Cometo milhares de falhas, continuo tendo dias péssimos, choro, me estresso, me sinto só, me desconecto de pessoas que amo muito e isso realmente dói - mas faz parte do processo. Quem disse que seria fácil?
Precisamos delimitar o ponto de partida. No meu caso, tento apreciar todos os processos em que estou inserido. Amo aprender e ensinar. Amo a arte e suas vertentes. Amo a beleza da vida e seus detalhes. Amo me conectar com as pessoas. Estou aprendendo a ajudar o próximo de uma forma mais direta. E tento a cada dia apreciar o presente, o agora. Maximizar cada momento. Pode ser um bom filme, uma conversa, uma taça de vinho ou um apetitoso prato de comida. Cometo milhares de falhas, continuo tendo dias péssimos, choro, me estresso, me sinto só, me desconecto de pessoas que amo muito e isso realmente dói - mas faz parte do processo. Quem disse que seria fácil?
Precisamos realmente parar e refletir naquilo que queremos. Dizer que queremos ser felizes e que queremos ter uma vida boa, é algo tremendamente óbvio e ao mesmo tempo vago. Todo mundo quer isso. Mas o que fazermos para alcançarmos esse objetivo? Vamos primeiro refletir. Vamos questionar nossas vontades e desejos. Por que preciso de um carro novo? Será que quero isso somente por aparência? Preciso realmente me casar ou vou me casar para não ficar só? Será que eu desejo filhos ou tenho medo de ficar velho e desamparado? Será que desejo estudar Direito ou farei somente para agradar meus pais? Preciso mudar de emprego ou vou viver reclamando do atual? Preciso entrar ou sair de um relacionamento? Sinceramente eu não sei. Mas digo que nunca é tarde para mudar. Não importa se é o emprego ou casamento. É possível começar a transformação neste exato momento. Isso dá muito trabalho. Toda transformação gera dor. Ser feliz dá muito trabalho, como diria Leandro Karnal.
Precisamos nos debruçar sobre todas as decisões que tomamos e que nos fizeram chegar até aqui. Olhar para o passado não com tristeza por pensar que tudo poderia ser diferente, mas com olhar de gratidão e saber que a partir de hoje tudo pode ser melhor.
A vida é muito curta par ser pequena.
Mário Sérgio Cortella
Que as dúvidas e incertezas da vida sejam encaradas com beleza e que tenhamos a destreza para enfrentar os desafios e apreciar os detalhes. Que possamos colecionar o máximo de momentos incríveis e que possamos dizer, valeu a pena ter vivido.
Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente.Érico Veríssimo , Olhai os Lírios do Campo. Editora Globo, 1974.
Roldan Alencar
quarta-feira, 30 de outubro de 2019
A última despedida...
| Hospital de Barretos - Setor de Hematologia |
O médico chega.
Com as explicações médicas, eu fiquei mais tranquilo. Imaginei que meu pai estava com um medo desproporcional a complexidade do procedimento. E disse a ele:
A enfermeira anuncia o nome do meu pai:
30 minutos depois, aflito novamente interpelo:
Roldan Alencar
- Filho, tô com medo... (fitando os olhos para o chão)
- Calma pai, 'tô aqui com você. Vai dar tudo certo. É um procedimento simples; logo termina (seguro bem forte a mão dele).
O médico chega.
- Boa tarde sr. Roldan. Tudo bem?
- Mais ou menos doutor. Estou com medo.
- Pode ficar tranquilo sr. Roldan. Já fiz mais de 500 procedimentos iguaizinhos a este e nunca aconteceu nada. (sorrindo e com tranquilidade).- Tem riscos?
- Tem sim. Todo procedimento médico envolve riscos.
- E qual o risco então doutor? (com a voz embargada)
- É o mesmo risco desse teto aqui desabar em nossas cabeças (com firmeza)
- 'Tá bom doutor, obrigado.
- Fica tranquilo. Te vejo daqui a pouquinho na sala de procedimento (bate as mãos nas costas do meu pai e sai)
Com as explicações médicas, eu fiquei mais tranquilo. Imaginei que meu pai estava com um medo desproporcional a complexidade do procedimento. E disse a ele:
- Acalma o coração paizão. Você não ouviu o que o médico acabou de dizer? Daqui a pouco você 'tá de volta.
- Eu sei filho, mas mesmo assim. 'Tô com um aperto aqui no peito. E se acontecer algo, não esquece tudo que conversamos, tudo que te ensinei 'tá?
- Claro pai, mas não vai acontecer nada. (fingindo calma, mas no fundo muito aflito)
- Não gaste mais do que você ganha. Dirija com atenção, principalmente na estrada. Não briga com seus irmãos. Não viva p'ra trabalhar. (ele respira fundo e continua) Viva bem filho. Tenha uma vida feliz. Promete? (ele sempre repetia isso, como um mantra).
- Prometo pai.
- Obrigado por tudo filhão. Te amo muito 'tá?
- Para com isso pai; também te amo muito paizão. Até daqui a pouco. (toda vez que ele tentava se despedir, meu coração se dilacerava. Mal sabia que essa seria a derradeira despedida).
A enfermeira anuncia o nome do meu pai:
- Sr. Roldan, já pode entrar.
Conduzo meu pai até a porta da sala de procedimento. Não fui autorizado a entrar. Fico na sala de espera. O procedimento não passaria de 45 minutos. Olho o relógio, já se passara uma hora. Indago a enfermeira:
- ´Tá tudo bem? 'Tá demorando.
- O doutor teve dificuldades para iniciar o procedimento, daqui a pouco termina, ok?
- 'Tá bom.
30 minutos depois, aflito novamente interpelo:
- Oi, desculpa incomodar. Já terminou o procedimento?
- Vou verificar, um instante.
Mais alguns minutos se passam. Perco a noção do tempo, pareciam dezenas de horas. Não consigo sentar. Levanto. Sento de novo. Olho incessantemente a porta. De repente, olho novamente e vejo o dr. George. Meu coração congela. Os olhos dele estão cheios de lágrimas. Não foi preciso dizer nada, os olhos dele disseram tudo, tudo o que eu não queria ouvir.
- Desculpa. Desculpa, eu fiz tudo que estava ao meu alcance, mas seu pai não resistiu.
Fiquei catatônico. Atônito. Mudo. Gelado. Incrédulo diante da notícia. Ele me abraça forte. Começo a chorar e a soluçar intensamente. O improvável aconteceu, o teto desabou bem em cima das nossas cabeças.
E é por isso que eu digo de coração aberto:
Nem todos os dias estamos bem; isso é normal. Nem todos os dias dizemos que amamos nossos pais; isso é normal. Mas nunca, nunca desperdice uma só oportunidade de demonstrar carinho, amor. De fazer um gesto de cuidado. Um carinho, uma lembrança. Um afago que pode ser um terno abraço ou um simples: como foi seu dia? Precisa de ajuda? Ou um singelo e sincero: eu te amo!
Cuide dos seus pais. Ame seus pais e deixem eles terem certeza disso.
Agora me restam as boas lembranças, os ensinamentos. As piadas, as gargalhadas, o futebol, os desenhos e telas, as canções acompanhadas do violão e depois do ukulele. A vontade de revê-lo é permanente. Como diria Rubem Alves:
A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar.
Todos os dias penso em voltar. Mas a vida nos dá e também nos tira; novamente recorro a Rubem Alves:
Amar é ter um pássaro pousado no dedo.
Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que,
a qualquer momento, ele pode voar.
Me dói a separação, mas me alenta a lembrança. O amor não se foi, pelo contrário, p'ra sempre ele vai ficar.
Aquilo que está escrito no coração não necessita de agendas, porque a gente não esquece. O que a memória ama fica eterno.
Roldan Alencar
terça-feira, 29 de outubro de 2019
#RubemAlves
“Aquilo que está escrito no coração não necessita de agendas, porque a gente não esquece. O que a memória ama, fica eterno.” – Rubem Alves
#RubemAlves
“Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses”, diria o escritor, ou, ainda: “Todo jardim começa com um sonho de amor. Antes que qualquer árvore seja plantada ou qualquer lago seja construído, é preciso que as árvores e os lagos tenham nascido dentro da alma. Quem não tem jardins por dentro, não planta jardins por fora nem passeia por eles…”
segunda-feira, 8 de abril de 2019
Poetizar
Poetizar é buscar outras formas
de dizer o mesmo
ou talvez uma tentativa de descrever o indescritível
Como verbalizar a furor de uma paixão?
Ou o amor de mãe?
Como descrever a beleza reconfortante de um rio?
Ou a paz de uma praia?
Poetizar é usar as palavras
Para tocar o intangível
É brincar de deus
Num universo onde tudo é possível
Dançar com as palavras
Balançar com o vento
E fluir com as águas
Ser guiado pelas estrelas
Ser iluminado pelo Sol
E acalentado pela Lua
Da fonte da vida
Não quero apenas beber
Tampouco encher meu cantil
Eu preciso transbordar.
Roldan Alencar
de dizer o mesmo
ou talvez uma tentativa de descrever o indescritível
Como verbalizar a furor de uma paixão?
Ou o amor de mãe?
Como descrever a beleza reconfortante de um rio?
Ou a paz de uma praia?
Poetizar é usar as palavras
Para tocar o intangível
É brincar de deus
Num universo onde tudo é possível
Dançar com as palavras
Balançar com o vento
E fluir com as águas
Ser guiado pelas estrelas
Ser iluminado pelo Sol
E acalentado pela Lua
Da fonte da vida
Não quero apenas beber
Tampouco encher meu cantil
Eu preciso transbordar.
Roldan Alencar
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segunda-feira, 18 de junho de 2018
#reflexão
"A memória não carrega peso inúltil em suas malas. Viaje leve. Leva sempre duas malas. Numa estão os objetos úteis. Noutras estão os objetos que dão prazer".
~Rubem Alves
~Rubem Alves
segunda-feira, 11 de junho de 2018
Visceral palatável | poesia
Contundente e latente
Carne e sangue
A poesia tem que ser antropofágica
Um pedaço do autor fica
E quem lê o devora
A digestão é diferente em cada leitor
Alguns metabolizam rápido
Outros nem tanto
Algumas leituras causam prazer
Outras azia
Algumas são até indiferentes:
Você gostou?
Sei lá, tanto faz.
Acho que essa é a pior opção
Impossível agradar a todos paladares
A quem goste de sarapetel
Outros somente filet mignon
Quem está errado, quem está certo?
Talvez todos estejam certos
Os conceitos e opiniões são fluidos
Cada ser é único
Com suas peculiariedades e paladares
Mas algo deve ser dito e redito:
"Eu não sei o segredo do sucesso,
mas o segredo do fracasso é tentar
agradar todo mundo"
Seja na poesia, seja no trabalho
Em todos os múltiplos aspectos da vida
Agradar a todos os paladares,
além de ser impossível é prejudicial
a saúde.
Roldan Alencar
* A frase em aspas já foi atribuida a várias pessoas. Não tenho fontes fidedignas para confirmar a autoria, mas acredito ser de Bill Cosby.
Carne e sangue
A poesia tem que ser antropofágica
Um pedaço do autor fica
E quem lê o devora
A digestão é diferente em cada leitor
Alguns metabolizam rápido
Outros nem tanto
Algumas leituras causam prazer
Outras azia
Algumas são até indiferentes:
Você gostou?
Sei lá, tanto faz.
Acho que essa é a pior opção
Impossível agradar a todos paladares
A quem goste de sarapetel
Outros somente filet mignon
Quem está errado, quem está certo?
Talvez todos estejam certos
Os conceitos e opiniões são fluidos
Cada ser é único
Com suas peculiariedades e paladares
Mas algo deve ser dito e redito:
"Eu não sei o segredo do sucesso,
mas o segredo do fracasso é tentar
agradar todo mundo"
Seja na poesia, seja no trabalho
Em todos os múltiplos aspectos da vida
Agradar a todos os paladares,
além de ser impossível é prejudicial
a saúde.
Roldan Alencar
* A frase em aspas já foi atribuida a várias pessoas. Não tenho fontes fidedignas para confirmar a autoria, mas acredito ser de Bill Cosby.
quinta-feira, 7 de junho de 2018
"Inteligência fica cega mediante tanta informação".
Tive dificuldade para escrever esse texto, primeiro pela demanda de atividades profissionais, mas, sobretudo, pelo bloqueio da criatividade, vulgo “queda súbita de QI”.
Não por falta de assunto, aliás, informação tem de sobra. A questão é não chover no molhado e, ao mesmo tempo, não tentar reinventar a roda.
Alguns mestres já deram este alerta:
O saudoso e querido Manoel de Barros disse: “Quem acumula muita informação perde o condão de adivinhar. Sábio é o que adivinha.”
Luiz Felipe Pondé confirma: “Informação demais atrapalha”.
Tao-Te-Ching arremata: “Na busca do conhecimento a cada dia se soma uma coisa. Na busca da sabedoria a cada dia se diminui uma coisa.”
Na Era do Detox, recomendo a desintoxicação da mente. Fazer uma faxina daquilo que não serve mais, conservar as coisas dignas de serem conhecidas.
E como identificar essas “coisas dignas”? Segue a recomendação de um ser humano que merece toda credibilidade na arte de viver:
…“Sabedoria é a arte de provar e degustar a alegria, quando ela vem. Mas só dominam essa arte aqueles que têm a graça da simplicidade. Porque a alegria só mora nas coisas simples”. Rubem Alves.
Resumo da ópera: escrevi este texto com a ajuda dos mestres acima, de uma boa xícara de café e pés descalços. Emprestando a expressão do mundo da moda: menos é mais.
Simples.
Acesse: http://leparole.com.br
quinta-feira, 12 de abril de 2018
Sonhamos o voo, mas tememos as alturas...
Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar é preciso amar o vazio. Porque o voo só acontece se houver o vazio. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso trocam o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.
É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não são livres porque um estranho os engaiolou, que se as portas das gaiolas estivessem abertas eles voariam. A verdade é o oposto. Os homens preferem as gaiolas ao voo. São eles mesmos que constroem as gaiolas onde passarão as suas vidas.
Rubem Alves , Religião e Repressão, pág. 9 - Ed. Loyola.

quarta-feira, 4 de abril de 2018
domingo, 25 de março de 2018
Mestre Benjamim | Roldan Alencar
Ele não era apenas um homem inteligente
Ele era um sábio
Contava as estórias
Em versos
Amou a vida como ninguém
Enxergou a beleza nas pequenezas
E viu grandezas
Em miudezas
Ele não morreu
Virou poesia
E quem vira poesia
Pra sempre viverá
Roldan Alencar
*Inspirado na Obra de Rubens Alves (Perguntaram-me se acredito em Deus). Mestre Benjamin é o principal personagem do livro. Barretos-SP (Outubro/2015)
Ele era um sábio
Contava as estórias
Em versos
Amou a vida como ninguém
Enxergou a beleza nas pequenezas
E viu grandezas
Em miudezas
Ele não morreu
Virou poesia
E quem vira poesia
Pra sempre viverá
Roldan Alencar
*Inspirado na Obra de Rubens Alves (Perguntaram-me se acredito em Deus). Mestre Benjamin é o principal personagem do livro. Barretos-SP (Outubro/2015)
segunda-feira, 19 de março de 2018
A beleza da música...
Ouvir música é encontrar-me com a beleza que existe dentro de mim.
Rubem Alves
Rubem Alves
sexta-feira, 16 de março de 2018
VERBUM FUGIT | poesia
Eu gosto de linguagem metalinguística
Falar da palavra
Escrever sobre escrever
Poetizar a poesia
Até que a poesia faça o poeta
Me assento sobre eternidades
Porque a beleza da vida
É atemporal e transcendental
Sou arauto do tempo
Que foi
Que é
e ainda será
Roldan Alencar
Falar da palavra
Escrever sobre escrever
Poetizar a poesia
Até que a poesia faça o poeta
Me assento sobre eternidades
Porque a beleza da vida
É atemporal e transcendental
Sou arauto do tempo
Que foi
Que é
e ainda será
Roldan Alencar
quinta-feira, 15 de março de 2018
Mais de Rubem Alves
Quem me conhece um pouco, sabe que sou apaixonado em Rubem Alves. Então compartilho mais um pensamento dele:
Amor e fome são a mesma coisa. Nada mais triste para uma cozinheira que o convidado sem apetite. "Não tenho fome." Ou aquele que diz: "Já estou satisfeito". Quem diz "não tenho fome" está dizendo "não quero mais fazer amor com você...".
quarta-feira, 14 de março de 2018
#Um pouco de Rubem Alves
Os poetas são cozinheiros pretensiosos que se esforçam para transformar o universo em banquete.
Rubem Alves
Rubem Alves
quinta-feira, 30 de novembro de 2017
TÊNIS X FRESCOBOL – Rubem Alves
Depois de muito meditar sobre o assunto, conclui que os casamentos são de dois tipos: há casamentos do tipo tênis e do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de vida longa.
Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzche , com a qual concordo inteiramente. Dizia ele : _”Ao pensar sobre a possibilidade de casamento, cada um deveria fazer a seguinte pergunta : Crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice ?” Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.
Nos contos das “Mil e uma noites”, Sherazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam com a morte, como no filme “O Império dos sentidos”. Por isso, quando o sexo já está estava morto na cama, e o amor não mais podia dizer através dele, Sherazade o ressuscitava pela magia da palavra. Começava com uma longa conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra – é a sexualidade sob a forma da eternidade; é o amor que ressuscita sempre depois de morrer. Há carinhos que se fazem com o corpo e carinhos que se fazem com as palavras. Não é ficar repetindo o tempo todo “eu te amo, eu te amo “.
O tênis é um jogo feroz. Seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada – palavra muito sugestiva que indica seu objetivo sádico, que é cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar, porque o adversário foi colocado fora do jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza do outro.
O frescobol se parece muito com o tênis : dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la e não há ninguém derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra, pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir…
E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos. A bola são as nossas fantasias, irrealidade, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho para lá , sonho para cá. Sonho para lá, sonho para cá…
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. O jogo de tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo como bolha de sabão. O que busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui , quem ganha, sempre perde.
Já no frescobol é diferente. O sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois sabe-se que, se é sonho é coisa delicada, do coração. Assim cresce o amor. Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então, que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim…
domingo, 10 de setembro de 2017
sábado, 22 de abril de 2017
Você é milho de pipoca ou piruá?

MILHO DE PIPOCA
A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser.
O milho de pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro.
O milho de pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer.
Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.
Assim acontece com gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira.
São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas. Só elas não percebem. Acham que é o seu jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor.
Pode ser o fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder o emprego, ficar pobre.
Pode ser o fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão, sofrimentos cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio. Apagar o fogo. Sem fogo, o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação. Pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pensa que a sua hora chegou: vai morrer.
Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.
Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: Bum! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, com que ela mesma nunca havia sonhado.
Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A sua presunção e o medo são a dura casca que não estoura. O destino delas é triste. Ficarão duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria a ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.
E você o que é? Uma pipoca estourada ou um piruá?
Por Rubem Alves
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"Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar."
Clarice Lispector
Depende de quando e como você me vê passar."
Clarice Lispector