domingo, 13 de maio de 2018

QUOTIDIANO

Antes que você me corrija, adianto que a grafia do título está correta. Aliás, a grafia "cotidiano" também está correta. Agora vamos nos concentrar no tema. Quantos de nós já reclamamos, em algum momento da vida, que estamos cansados da nossa rotina. Cansados da mesma atividade diária, dos mesmos lugares e das mesmas pessoas. Seja honesto, você já se queixou alguma vez (ou várias). E isso é normal. Não é à toa que gostamos tanto de viajar (pelo menos muitos de nós). A mente precisa do novo. Isso não significa que precisamos endemonizar o quotidiano. Nossa vida acontece no dia a dia. Afinal, só em filmes os personagens vivem loucamente e está tudo bem. Na vida real, até os artistas e famosos precisam de quotidiano e sentem falta dele. Eles adoram viajar, interagir com o público, receber a energia dos fãs. Mas eles sentem falta da casa deles, da família deles, da cama deles. Ah, o lar. É um lugar tão especial. 

Não podemos esquecer que o quotidiano nos dá segurança, equilíbrio. E isso é fundamental no mundo maluco e tecnológico em que vivemos. Não saber para onde ir ou o que fazer no amanhã, pode parecer legal e desafiador. Mas imagine isso o tempo todo. Imagine a angústia que essa incerteza irá nos gerar, com certeza isso irá nos consumir aos poucos.  Acredito que o segredo está no equilíbrio (o que parece óbvio, mas não é). Precisamos sempre procurar o desenvolvimento pessoal, procurar novas coisas para fazer, novas habilidades, novas amizades. Mas sem jamais esquecer dos nossos princípios e principalmente daqueles que estão ao nosso lado. Não deixe um amor por outro, não deixe uma amizade por outra. É claro, se houver justo motivo, afasta-se de tudo aquilo que tira sua paz, não importa se é uma pessoa ou seu emprego. 

Falar em quotidiano é falar em felicidade, pois nossa vida acontece nele. E por isso, não podemos esquecer que a felicidade não está na chegada, pois ela é o próprio caminho. A felicidade não localizada no final de semana, no happy hour ou nas férias. Com certeza ela pode estar nesses lugares. Também pode ser encontrada num objeto ou situação. Mas essa felicidade é efêmera. Muitas vezes não é sequer alegria, tra-se apenas de euforia. Para ilustrar a ideia de caminho, imagine um alpinista que treinou anos e se esforçou muito para escalar o Monte Everest. Ao chegar no pé da montanha ele é, misteriosamente, teletransportado para o topo. Imagine a frustração dele ao saber que não escalou nada, ou seja, não participou do caminho. Você já reparou que muitas vezes nos divertimos mais na expectativa e nos preparativos de uma festa ou viagem, do que propriamente na viagem ou no evento?

A felicidade real está aqui, no agora. Está no quotidiano. Está dentro de nós. A sensação de uma vida com propósito está em cada fio que  tecemos diariamente. E será encontrada na casa que você está agora, no seu trabalho atual e com as pessoas que você ama. Se não gostamos de onde estamos e não mudamos, algo está extremamente errado. É preciso fixar raízes, mas não se estagnar. É preciso mudar, mas não o tempo todo. Desbrave o mundo e faça as mudanças necessárias. A pergunta que devemos refletir é: eu gosto do meu quotidiano? O que posso melhorar ? (sempre existe algo a melhorar). Posso acrescentar algo? Se não gosto de algo, o que estou fazendo para mudar isso?

Para chegarmos a essas respostas, o crescimento pessoal e espiritual deve ser uma constante (e não importa se você tem religião ou não). A razão (lógica) deve estar alinhada com os anseios da alma. Por isso é preciso evitar a lamúria,  ela é extremamente venenosa. Se não gostamos de algo devemos lutar para mudar. Por isso o conhecimento interior é imprescindível. Os gregos há milênios já diziam "conhece-te a ti mesmo e conhecerás todo o universo e os deuses, porque se o que procuras não achares primeiro dentro de ti mesmo, não acharás em lugar algum"*. Que possamos ter discernimento para saber o que mudar e coragem para fazer essa mudança. E por fim, que jamais nos esqueçamos: quem é grato no pouco, será grato no muito.

Namastê,

Roldan Alencar

*frase escrita no Templo de Delfos na Grécia.

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Clarice Lispector