domingo, 24 de novembro de 2019

Seja o protagonista de sua própria história.


1. Busque tirar força da adversidade. Evite o viés da negatividade.

2. Nutra confiança em todas as suas relações. Entenda que empatia é entender que o outro é realmente outro.

3. Observe a sua volta o que está fora de seu controle e o que é possível estar sob seu controle. Canalize sua energia para o segundo. Lembre-se de que energia é um recurso finito.

4. Não espere dar vontade para fazer algo. As coisas mudam com ações e não com vontades. Desafie seu cérebro: aprenda coisas novas. Consistência é mais importante que intensidade. É melhor meio passo do que nenhum. Sucesso é uma medida pessoal, não é comparar-se com alguém, mas consigo próprio: estou melhor do que eu era ontem?

5. Todos vamos morrer. Não desperdice seu tempo. Com o passar dos anos você tem menos tempo para viver. Seja responsável com esse recurso.

Pedro Calabrez

Assista a palestra na íntegra https://www.youtube.com/watch?v=FUepaoneUvs
"Feito é melhor que perfeito", será?


Com certeza sim. Fazer é melhor do que não fazer. Muitas vezes a busca pela perfeição nos paralisa, até porque a perfeição é algo muito difícil de se obter e em muitos casos impossível. Trata-se de uma ilusão que nem sempre nos paralisa, mas tira toda nossa produtividade. E uma vez que você não é produtivo, você não vê os resultados e logo desiste. 

Fazer não significa fazer de qualquer jeito. Significa não inventar desculpas que não fará algo porque não pode fazer do jeito ideal ou da forma perfeita. Uma frase que carrego comigo sempre é dita e repetida por Mário Sérgio Cortella:

Faça o teu melhor, na condição que você tem, enquanto você não tem condições melhores, para fazer melhor ainda!

Ou seja, apenas faça algo entregando o seu melhor naquele momento. Mas Roldan, 'tô desanimado, faça! Estou cansado, faça! Quantas vezes criamos ou potencializamos desculpas. É normal estar cansadado após um dia pesado de trabalho, após conflitos. Mas se para cada ação necessária inventarmos uma desculpa, não faremos absolutamente nada além da nossa zona de conforto.

A zona de conforto é um lugar lindo, pena que lá nada acontece. 

Quantas vezes deixamos de correr ou fazer qualquer atividade física por desculpas, sempre acharemos uma, vejamos:

- Não tenho tênis;
- 'Tá frio;
- 'Tá calor;
- Não tenho roupas adequadas;
- 'Tô cansado;
- Tenho que estudar/trabahar/cozinhar/cuidar dos meus filhos;
- Meu pé 'tá doendo;
- Minha unha encravou;
- A Lua está em escorpião;
- Etc.

É lógico que muitas vezes esses fatos acima poderão cancelar ou adiar nossa atividade física (menos a astrologia, fui bem sarcástico, peço desculpas se você leva isso muito a sério). Realmente não temos a obrigação de fazer uma atividade física com enxaqueca e devemos ser responsáveis com nossos compromissos, se existe um trabalho necessário ou urgente a ser feito naquele momento, com certeza ele deverá ser priorizado. Mas voltando aos exemplos acima, veja que nem citei "academia", nesse caso a principal desculpa seria: não tenho dinheiro para pagar a mensalidade; é longe; o instrutor é péssimo...Além disso, podemos contextualizar o exemplo com qualquer atividades que temos desejo de executar: leitura, trabalho, estudos, tempo de qualidade e lazer com amigos e família e por aí vai.

Meu ponto é: inventamos desculpa para tudo o tempo todo.
Precisamos lutar contra isso!

Quando falamos em otimizar e usar o tempo a palavra da moda é a procrastinação, deixar algo para depois. E nesse contexto muitos falam de motivação: precisamos buscar a motivação para fazer algo, encontrar os propósitos que nos inspiram. Isso é lindo e devemos mesmo procurar propósitos e razões para fazer algo. Mas a verdade é que estamos preguiçosos. Precisamos ser honestos às vezes. No meu caso se eu precisar de motivação para algumas atividade que faço ou pretendo fazer - ´tô ferrado. Isso porque motivação é algo interno, não basta ver vídeos motivacionais ou ver alguém com o corpo perfeito que em seguida sentirei vontade de sair correndo. Talvez eu sinta primeiro inveja, raiva porque a genética de fulano é boa e a minha é péssima. Ou fulano é magro ou bonito porque tem dinheiro, essa afirmação é a campeão de vendas.

Quantas vezes escutei na minha vida: não existe pessoa feia, existe pessoa pobre. Olha, de fato o dinheiro pode fazer milagres com procedimentos estéticos. Mas correr e caminhar na rua é de graça (pelo menos por enquanto). E na contramão da frase citada, conheço muita gente rica que não tem nada de saudável, que são feias e estão mutio acima do peso. E no fundo todos nós sabemos que aqueles famosos com corpos "perfeitos" ralam muito na academia e a maioria deles praticam hábitos saudáveis. Não é uma lipospiração que vai deixar alguém sarado por muito tempo é a rotina dela, nossos hábitos dizem quem somos.

É preciso ter decisão: vou fazer mesmo sem vontade ou motivação.
Vou fazer porque me amo e preciso cuidar de mim.
Vou fazer porque sei que é importante e as consequências
farão minha vida melhor.
Vou fazer porque terei mais qualidade de vida.

Atenção, quando digo fazer sem vontade é pensando em algo positivo, ok? Não significa que vou na casa de fulano sem vontade só para agradar ele. Que vou praticar um esporte que detesto porque queima mil calorias por hora, não! Se você não está a fim de fazer algo não force a barra. Minha reflexão é sobre crescimento pessoal, desenvolvimento, autoaperfeiçoamento. Penso em atividades como caminhar, correr, malhar, meditar, ler, praticar um hobby (pintura, música, artesanato), praticar ajuda ao próximo e por aí vai.

Bom agora me despeço de você porque vou correr um pouco -  pergunta pra mim se estou a fim? Não mesmo, mas vou mesmo assim! Por que? Porque sei que minha vontade é comer e ficar à toa o dia inteiro. Nunca fui bom em física, mas acredito muito na inércia, ou seja, se eu não decidir colocar o tênis e correr, vou desperdiçar meu dia todo com nada (não sou contra o descanso necessário e o ócio, mas isso é assunto para outro dia). 

A melhor maneira de dar início a alguma coisa
é parar de falar e começar a fazer. (Walt Disney)

Namastê!

Roldan Alencar





sábado, 23 de novembro de 2019

"A vida já anda tão pesada
Se desfaça das malas que pesam mais
Se desfaça da mágoa
Se desfaça da dor
Se desfaça do ódio
Se desfaça do rancor
Cultive o amor
Pra colher as mais belas verdades
Cultive o amor
Pra colher as mais belas saudades"

 Saudades do tempo
Maneva

Saudades do tempo, dos velhos momentos
Dos anos passados que foram com o vento
Sorrisos, lembranças, belos sentimentos
De transformações e de renascimentos
Praias, viagens pela madrugada
Nossa rotina era o pé na estrada
Sempre felizes sem pensar em nada
Paisagem mais bela é o sorriso da amada

Contava as estrelas manto prateado
Sentia o calor de um abraço apertado
Fazia minha boca tocar o seu lábio
Lua iluminava com um Bob no rádio
Nas manhãs nubladas, bom humor imperava
A vida era um jogo, sem cartas marcadas
A noite no fogo, um bom som que rolava
Por entre a fumaça, diversas risadas

Como se seus ouvidos pudessem respirar
O som invadia o corpo, como se fosse o ar
O som tomava forma, sensação de bem estar
Momentos de magia, muitas formas para amar
Marcas de batom na borda de um copo plástico
No peito euforia, abraços, riso fácil
E com desconhecidos, seguia, criando laços
Transpirava alegria era dona dos seus passos
Consciência admirável como as tintas de uma tela
Seus olhos tinham o brilho das cores da aquarela
Seu cabelo ao vento era a paisagem mais bela
Tinha a complexidade de uma Vênus moderna
Ascendeu ao azul do céu nos seus próprios pensamentos
Não pensou no seu futuro, ela era o momento
Vi a ponta dos seus pés no gelado do cimento
Entre olhares meu desejo, povoar seu pensamento

Como se seus ouvidos pudessem respirar
O som invadia o corpo, como se fosse o ar
O som tomava forma, sensação de bem estar
Momentos de magia, muitas formas para amar
Marcas de batom na borda de um copo plástico
O peito euforia, abraços, riso fácil
E com desconhecidos, seguia, criando laços
Transpirava alegria era dona dos seus passos
Consciência admirável como as tintas de uma tela
Seus olhos tinham o brilho das cores da aquarela
O seu cabelo ao vento era a paisagem mais bela
Tinha a complexidade de uma Vênus moderna
Ascendeu ao azul do céu nos seus próprios pensamentos

Não pensou no seu futuro, ela era o momento
Vi a ponta dos seus pés no gelado do cimento
Entre olhares meu desejo, povoar seu pensamento
Entre olhares meu desejo, povoar seu pensamento
Entre olhares meu desejo, povoar seu pensamento



quarta-feira, 13 de novembro de 2019

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

A beleza da incerteza e os desafios da vida

Paradoxalmente a beleza da vida está na dúvida. Que graça teria a vida se cada acontecimento fosse um passo previamente conhecido - não teria a menor emoção. Tenho a impressão que nossa sociedade moderna quer acabar com isso. É como se fôssemos marionetes. Quando nascemos temos um manual pré-fabricado de como tudo deve ser. E parece que nos é permitido apenas mudar algumas pequenas cláusulas de manual.

E isso é algo importante a se pensar. Mesmo que não entremos em discussões religiosas, gostaria de perguntar por que vivemos? Qual o nosso propósito de vida? Qual a nossa margem de escolha no mundo que vivemos. Isso é muito sério. Para começar não escolhemos a época em que nascemos, nem nosso gênero, nome, nacionalidade, etnia, família ou classe econômica. 

Quais são nossas escolhas, senão aquelas oriundas da realidade pronta que recebemos ao nascer?

Em um lacônico resumo, ouso esboçar um possível modelo de vida nos seguintes termos: (excetuando o nascimento, os demais não seguem uma ordem cronológica exata): - Nascemos. Aprendemos a andra e falar. Entramos no colégio. Nos graduamos. Estudamos incessantemente por anos para conseguir um bom emprego (afinal precisamos fazer nossa vida. Pagar contas: água, energia, telefonem internet, carros, roupas, viagens, celulares e acessórios).  Precisamos nos relacionar, namorar, casar. Precisamos de casa e precisamos gerar filhos, netos...plantamos uma árvore, escrevemos um livro...Um ajuste ali, aqui ou acolá, pronto cumprimos o manual mencionado lá no começo. Podemos esperar a morte em paz.

Tanto é verdade o que estou dizendo que quando alguém chega na casa dos 30 anos ou até antes se sente na obrigação de ter conquistado a almejada estabilidade financeira e vários pontos do "suposto manual" da vida, como se casar, por exemplo. A mulher se sente pressionada a ter filhos. E lá no íntimo, mesmo que digamos que não ligamos para toda essa expectativa social, sempre existe alguma frustração de algo não realizado segundo os padrões da sociedade. Um auto-senso de falha. Isso é normal.

Faz sentido? Você vive assim? Eu vivo e neste exato momento estou pensando no que posso fazer para processar toda essa informação e ressignificar tudo isso.

A questão não é ter um filho, é criá-lo da melhor forma possível. Não é sobre plantar uma árvore, mas sim regá-la todos os dias. Não é sobre escrever um livro, mas sim acreditar e praticar aquilo que foi escrito.

Nos sentimos pressionados a tomar determinado rumo, muitas vezes porque é o que a maioria faz. Seria o famoso efeito manada? Somos orientados a fazer o curso X ou Y, porque o curso Z não dá dinheiro (não importa se você gosta ou não). Somos conduzidos a sermos bem sucedidos e talvez teremos como brinde a tão sonhada felicidade. Afinal, é muito mais fácil sorrir quando se mora numa casa confortável, dirige um carrão e não possui dívidas, certo? Mas será tão simples assim?

E nessa toada, algo que me intriga ocorre quando acesso a internet e vejo milhares de coaches e pseudo terapeutas dizendo: você pode ser o que quiser. Desde de um milionário a uma celebridade da TV. Tudo é questão de meritocracia. Bem, eu realmente acredito no poder do trabalho e no poder da transformação. Mas como falar em meritocracia para pessoas desiguais. Qual a probabilidade de um filho de juiz ser médico em comparação a um filho de uma mãe solteira com mais 5 irmãos residentes em uma favela do Brasil? 

Ambos terão que estudar e se dedicar caso queiram se tornar médicos, é claro. Mas qual terá as melhores condições de lograr êxito? Quem teve acesso aos melhores colégios, médicos, alimentação, moradia. E nesse raciocínio eu indago: - Seria o mundo justo? Seria a vida traiçoeira? Qual seria a culpa de Deus em tudo isso? A vitória ou derrota depende somente de nós mesmos? Isso me faz lembrar de uma reflexão de Mário Sérgio Cortella:

"Faça o teu melhor, na condição que você tem, enquanto você não tem condições melhores, para fazer melhor ainda!" 

Não estou defendendo o vitimismo. Estou apenas indicando as incongruências do discurso do "posso tudo desde que eu pague o preço". Esse discurso é parcialmente verdadeiro. Com certeza temos que lutar pelo que queremos e fazer nosso melhor, entretanto, é preciso antes enxergar a realidade, pare depois transformá-la. Veja, não estou dizendo que é errado seguir passos ou planejar a vida. Isso é bom. O errado é a "opressão". É o fazer por fazer. Sem vontade. Sem reflexão.  Sem tesão. Geralmente fazemos nossos planos de vida baseados em ilusões ou nos passos que nossos pais seguiram ou planejaram para nós. E falando neles, é claro que eles sempre desejam o melhor é claro. Querem que tenhamos uma vida bem-sucedida.  Mas o que seria uma vida "bem-sucedida" em termos da sociedade atual? Seriam nossos desejos uma construção do ego, algo feito para manter nossas aparências? Ou seriam sonhos do nosso íntimo? Coisas que realmente nos deixam realizados. 

Atenção! Não quero incentivar à vida dos prazeres (hedonismo) aquela em que a vida perfeita está atrelada a fazermos somente aquilo que nos dá prazer, tampouco o niilismo (pessimismo sobre a vida). De forma alguma. A vida boa para mim é a vida com significado. Que tenha um propósito, seja ele cuidar de crianças carentes, salvar as baleias, o meio-ambiente, propalar a arte (música, pintura, literatura), esportes, criar seus filhos ou escrever um livro.

Gostaria de deixar claro que faço muitas perguntas e não pretendo responder todas (talvez eu não responda nenhuma). Meu objetivo aqui é a reflexão. Na filosofia as perguntas são mais importantes que as respostas, pois a solução de um problema nasce primeiro com as ideias.

Ok, Roldan! Estou refletindo, mas você não teria alguma ideia? Sim, como eu mencionei lá em cima, é preciso acreditar e praticar o que se escreve. Eu escrevo para refletir e reflito enquanto escrevo, num processo de retroalimentação. Comecei a escrever justamente para extravasar todo sentimento não compreendido. Confesso que o processo de significação da vida é infinito, pois ele vai se transformando. Afinal, aprendemos e ensinamos todos os dias. Aquele que deixou de aprender ou ensinar, assinou sua sentença de morte. E quando digo "aprender e ensinar",  não me refiro somente ao ensino formal propriamente dito, podemos aprender e ensinar de infinitas maneiras. Mas é preciso estabelecer as bases do que será nossa "vida com propósito", ou como diria Clóvis de Barros Filho: uma vida que vale a pena ser vivida.

Precisamos delimitar o ponto de partida. No meu caso, tento apreciar todos os processos em que estou inserido. Amo aprender e ensinar. Amo a arte e suas vertentes. Amo a beleza da vida e seus detalhes. Amo me conectar com as pessoas. Estou aprendendo a ajudar o próximo de uma forma mais direta. E tento a cada dia apreciar o presente, o agora. Maximizar cada momento. Pode ser um bom filme, uma conversa, uma taça de vinho ou um apetitoso prato de comida. Cometo milhares de falhas, continuo tendo dias péssimos, choro, me estresso, me sinto só, me desconecto de pessoas que amo muito e isso realmente dói  -  mas faz parte do processo. Quem disse que seria fácil?

Precisamos realmente parar e refletir naquilo que queremos. Dizer que queremos ser felizes e que queremos ter uma vida boa, é algo tremendamente óbvio e ao mesmo tempo vago. Todo mundo quer isso. Mas o que fazermos para alcançarmos esse objetivo? Vamos primeiro refletir. Vamos questionar nossas vontades e desejos. Por que preciso de um carro novo? Será que quero isso somente por aparência? Preciso realmente me casar ou vou me casar para não ficar só? Será que eu  desejo filhos ou tenho medo de ficar velho e desamparado? Será que desejo estudar Direito ou farei somente para agradar meus pais? Preciso mudar de emprego ou vou viver reclamando do atual? Preciso entrar ou sair de um relacionamento? Sinceramente eu não sei. Mas digo que nunca é tarde para mudar. Não importa se é o emprego ou casamento. É possível começar a transformação neste exato momento. Isso dá muito trabalho. Toda transformação gera dor. Ser feliz dá muito trabalho, como diria Leandro Karnal.

Precisamos nos debruçar sobre todas as decisões que tomamos e que nos fizeram chegar até aqui. Olhar para o passado não com tristeza por pensar que tudo poderia ser diferente, mas com olhar de gratidão e saber que a partir de hoje tudo pode ser melhor.

                                   A vida é muito curta par ser pequena.
                                              Mário Sérgio Cortella

Que as dúvidas e incertezas da vida sejam encaradas com beleza e que tenhamos a destreza para enfrentar os desafios e apreciar os detalhes. Que possamos colecionar o máximo de momentos incríveis e que possamos dizer, valeu a pena ter vivido.

Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente.
Érico Veríssimo , Olhai os Lírios do Campo. Editora Globo, 1974.

Roldan Alencar



Ouro de tolo
Raul Seixas

Eu devia estar contente porque eu tenho um emprego
Sou o dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros por mês
Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar um Corcel 73
Eu devia estar alegre e satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado fome por dois anos
Aqui na cidade maravilhosa
Ah eu devia estar sorrindo e orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa
Eu devia estar contente
Por ter conseguido tudo o que eu quis
Mas confesso, abestalhado
Que eu estou decepcionado
Por que foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto "e daí?"
Eu tenho uma porção de coisas grandes pra conquistar
E eu não posso ficar aí parado
Eu devia estar feliz pelo Senhor
Ter me concedido o domingo
Pra ir com a família no jardim zoológico dar pipocas aos macacos
Ah, mas que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado
Macaco, praia, carro, jornal, tobogã, eu acho tudo isso um saco
É você olhar no espelho
E se sentir um grandessíssimo idiota
Saber que é humano, ridículo, limitado
E que só usa 10% de sua cabeça animal
E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial
Que está contribuindo com sua parte
Para nosso belo quadro social
Eu é que não me sento no trono de um apartamento
Com a boca escancarada, cheia de dentes
Esperando a morte chegar
Porque longe das cercas
Embandeiradas que separam quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora de um disco voador
ah eu é que não me sento no trono de um apartamento
Com a boca escancarada, cheia de dentes
Esperando a morte chegar
Porque longe das cercas
Embandeiradas que separam quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora de um disco voador
A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.
Vinícius de Moraes Samba da benção - Álbum "Vinicius".

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Você paga o preço?

Mas pera aí Roldan! Que preço? Do que se trata? Depende.

Bom, verdade, tenho que concordar com você.  Hoje vivemos na era do "depende". Então vou contextualizar.

Em tempos líquidos (Bauman - Modernidade Líquida), onde tudo parece rápido, raso e superficial o valor das relações interpessoais e o valor das relações com os objetos está mudando. Queremos experimentar tudo e a todos. Queremos o novo o tempo todo. Isso é perigoso, mas irreversível. Quanto mais acessível algo está, mais ele perde o seu valor. É a famosa lei da oferta e da procura.

“Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar.”
Zygmunt Bauman

A relação do ser humano com o tempo está mudando. O tempo dura menos. A cada dia temos mais compromissos, são mais carros circulando nas ruas, mais pacotes para abrir, mais filmes, mais cursos, mais aplicativos, mais pratos, como posso experimentar tudo se meu tempo é limitado?  Vou experimentar o máximo de coisas da forma mais superficial possível. BINGO! Essa é a solução mágica encontrada pela sociedade moderna.

Por que ter um super amigo e dedicar um tempo de qualidade para ele, se posso ter dez  amigos e dar 1/10 do tempo para cada um deles ? Por que ficar 10 dias na Itália, se no mesmo período posso conhecer mais de 5 países? Por que me casar se posso a cada semana conhecer uma pessoa diferente? Para que comprar um casa, se posso morar em tantos lugares diferentes?

Agora minha pergunta está começando a fazer sentido. O quanto estamos dispostos a pagar por algo? O quanto estamos dispostos a investir tempo em algo? O tempo é escasso; se dedicar a algo implica automaticamente na perda de várias outras oportunidades. Então temos uma conflito:

Superficialidade x Profundidade
Variedade x Qualidade

Em tempos de Tinder, Ifood, Instagram, Facebook e outros apps, tudo parece mais volátil e superficial. Não à toa que muitos trocam de celulares e carros todo ano. Aqueles que não trocam, muitas vezes, não o fazem somente por questões financeiras. Os relacionamentos também são muitos, ao primeiro desgaste da relação, muitos casais já se separam, afinal não há tempo a perder.

Corrida contra o relógio
Silicone contra a gravidade
Dedo no gatilho, velocidade
Quem mente antes diz a verdade
Satisfação garantida
Obsolescência programada
Eles ganham a corrida
Antes mesmo da largada

(3ª do Plural - Engenheiros do Hawaii)

A questão é, estamos vivendo numa era onde queremos trocar de parceiros, amigos e coisas o tempo todo. O valor inerente de cada coisa está se perdendo.

Pensamos: bom, se ele não quer ser mais meu amigo, tudo bem, posso encontrar outro. Talvez outro até mais interessante. Se ele/ela não quer ficar mais comigo, sem problemas, procuro quem queira...Perdemos o interesse rápido. O mundo moderno e globalizado nos dá a ilusão que tudo é possível. Tudo é acessível. Tudo é instantâneo. Tanto é verdade, que quando mandamos uma mensagem no WhatsApp para algum amigo que está online e ele não responde no mesmo instante, o que pensamos: "Caramba, ele 'tá online e não responde". (Que abuso, que desfeita). Ou seja, pelo fato da pessoa estar online pensamos que ela está acessível e se ela não responde achamos aquilo uma afronta e já criamos um bloqueio, e muitas vezes até perdemos o interesse na pessoa (mesmo que seja momentâneo), porque achamos que ela não teve interesse em responder.

Alguns chamam essa transitoriedade em relação as pessoas e as coisas de "Síndrome de Don Juan", ou seja, a falta generalizada de interesse das pessoas umas nas outras e/ou a falta de interesse nas coisas.

Será que estamos vivenciando a era dos prazeres dionísicos? A verdade é que a variedade é indiretamente proporcional a intensidade do prazer. 

Então fica a pergunta: o que temos feito de sólido? Em relação a nossos relacionamentos (sejam eles de amizade, amorosos, familiares) e também com os objetos que temos ou desejamos (roupas, gadgets, acessórios...).

Todo esse panorama descrito não significa necessariamente que o passado seja melhor que o presente, ele é apenas diferente. Estamos em transição. Mas é preciso ter cuidado. A velocidade do mundo só tende a aumentar. Então o que fazer? É preciso alinhar o uso do tempo com nossos propósitos mais íntimos. Sopesar se é melhor ter poucos e bons amigos do que ter muitos e superficiais. Se é melhor conhecer bem um único lugar ou conhecer dezenas de forma superficial. Se é melhor dedicar um tempo de qualidade num relacionamento amoroso e criar laços ou sair com diversas pessoas e nunca criar laços profundos.

Que possamos balancear e equalizar o investimento do nosso bem mais precioso: o tempo. Que possamos pagar o preço necessário. E que a nossa energia vital seja dedicada aquilo que nos faz bem e aqueles que amamos.


Roldan Alencar


Sobre a liquidez dos "relacionamentos amorosos", recomendo a música "Fuzuê" do Tiago Iorc, basta acessar nesse link: Fuzuê | Tiago Iorc - Clipe Oficial

E também fiz um texto que trabalha a mesma ideia Olhares Atentos


Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver. 
Dalai Lama

Frase e reflexão


“Os tolos dizem que aprendem com os seus próprios erros; eu prefiro aprender com os erros dos outros.”

Otto von Bismark

Como diria Mário Sérgio Cortella, será? O que você pensa sobre essa frase?
"Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar."

Clarice Lispector